quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Precipitou-se.
Havia estado a esperar o momento adequado para, enfim, assumir-se, esplendorosamente, como uma parte inseparável de seu todo e, na inquietude de romper-se, ultrapassando suas frágeis delimitações, precipitou-se.
Não se conformava com a forma adaptável que esperavam que tivesse e que, admitia, acabava por ter. Não é fácil poder sair dos moldes onde somos colocados à revelia. Tudo é um processo, muitas vezes longo e moroso. No seu caso, a espera dependia da perspectiva.
Era tão propícia a conformar-se com o que lhe ofereciam que acreditava em alguns momentos ser insignificante, apenas mais uma.
E, resignada, seguia seu curso.
Internamente, porém, possuía uma chama a trepidar que, lhe queimando, acendia suas certezas. Até mesmo aquelas que caladamente duvidava nos momentos de calmaria.
Esta aparente contradição era o que mantinha vivo o ciclo natural. Não há vida sem diferenças. Não há percurso sem impulso inicial que parte do atrito de forças opostas, de temperaturas opostas. Os contrários se mantém.
E no momento ápice, quando, dilatada, não cabia mais em si, precipitou-se.
Poderia sentir mil coisas ao mesmo tempo, mas nada se comparava à sensação de estar livre e à mercê da vida!
Poderia atingir a ubiqüidade em outros estados, mas o fato de ser sentida era o que lhe fascinava.
Podia cair onde quer que caísse, podia correr por lugares inimagináveis. Queria apenas estar. Queria seguir por onde lhe dessem passagem e abrir caminho arrastando obstáculos. Queria ver nascer e saber que o nascimento revelava sua estada por ali. Esta era a expressão maior da sua força. A vida.
A sua era errante. Abandonava-se ao que se lhe apresentasse pelo caminho. Deixava-se levar e levava em si sensações que se impregnavam, fazendo-lhe ser o que era.
A vida. Em suas mais diversas formas.
Não era possível duvidar de sua força.
Apenas deixar que caísse lavando o que tivesse que ser lavado. E sentir.
Deixa chover.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Para os seus sentimentos sutis, eu dispenso a sutileza da minha falta de sentimentos.