sábado, 28 de maio de 2011

Quando ele tossia já podia sorrir, porque apesar de tudo o que representava, a tosse já era a externalização. E o que saía, já não fazia mais parte dele. Essa ilusão o mantinha vivo. E mesmo doente, ele seguia feliz. :) 
Ela criava monstros embaixo da cama.
Este era um dos seus mais bem guardados segredos. Os alimentava como crianças que choram, e os cobria com pequenos cobertores daqueles que esquentam os pés nos dias de frio insuportável.
Ela criava monstros.
Quando chegavam eram apenas criaturas pequeninas, quase nem notáveis a olho nú - os monstros nasciam assim -, mas sua natureza não podia se disfarçar por muito tempo.
Ela criava monstros. 
E os alimentava tão bem que eles cresciam de forma assombrosa. Mesmo.
Ontem, eles já eram tantos e tão grandes que de ficarem embaixo da cama, a cama passou a ficar em cima.
E ela dormia nas alturas.
Sem conseguir enxergar direito o mundo lá embaixo.
Nem seus óculos de ver melhor adiantavam mais.
Assim, de tão longe, com as vistas cansadas, só lhe restava dormir. E ali ela vivia de sonhos, daqueles que quando apertam o coração basta acordar.

sábado, 14 de maio de 2011

Esta sociedade repressora do sentimento... O que é que eu faço com isso tudo que está aqui dentro, se não pode pra pôr pra fora? 
E como foi que chegou neste ponto de ser bobo aquele que sente? Bobo é quem tá perdendo de sentir!
Sem poesia!!! Pra que poesia? 
Poesia é mais bonita quando fala de sofrimento e eu já fui mais infeliz.
Hoje eu quero é cantar um samba!
:)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Ela estava prestes a se lançar novamente. Sem amarras, sem cinto de segurança, sem rede de proteção.
A beleza da sua vida dava o ar da graça nestes momentos, em que corria o risco máximo de se machucar, mas não hesitava se alguém propunha se jogar.
Por um instante cogitava a possibilidade de se negar esta emoção para ficar a salvo de males futuros, como conherea outrora tão bem, nos males futuros que foram presente no passado.
Por um instante questionava-se se era digna daquela nova possibilidade tão impressionantemente extraída dos seus sonhos mais inconscientes diretamente para o centro da vida real, o presente.
Mas era só um instante.
Estas eram manifestações racionais.
Pequenas manifestações racionais num emaranhado de emoções que nem ela entendia, mas que estavam acordando coisas já esquecidas lá dentro.
Era o bom dela vindo à tona.
Era o sentimento que já desconfiava não mais existir. Pelo menos ali dentro.
Estava a sentir aquelas sensações infaláveis, indizíveis. Queria inventar palavras, gestos, músicas... Não era suficiente. 
Isto era só o começo.
Ela estava se permitindo.