domingo, 12 de dezembro de 2010

Não era bem para ser daquela forma, mas nem ele conseguia entender o que desencadeava cada explosão.
Quando percebia que tudo ia conforme o esperado vinha o medo de acontecer de novo.
É que estava sempre muito feliz com o que lhe acontecia. Rendia graças pelas benesses que, sem merecer, recebia, mas, bastava perceber que tudo ia bem, para que as coisas começassem a perder o sentido.
Era preciso se manter imerso, porque a cada emersão,  rompia-se o lacre e voavam estilhaços para todos os lados. Após a explosão, os vidros em que guardava os ingredientes de cada experimento se transformavam em mil pontos brilhantes que cintilavam sobre sua pele ao se olhar contra a luz, e ele, (im)pacientemente, via-se obrigado a retirá-los, um a um.
Alguns não deixavam resquícios, outros, cicatrizes enormes, mas ele sabia que a dor era menor que o incômodo de antes.
O incômodo da felicidade descontrolada. O incômodo da felicidade desconhecida. O incômodo da felicidade inesperada e não merecida.
No contato com a vida e com a verdade da felicidade que lhe alcançara ele se desconhecia.
Ficava a sensação de pedras no sapato no meio da procissão.
Entretanto, era como se pisasse com o corpo inteiro. Quando pensava por esta perspectiva, tudo o que desejava era que ao invés de ser o pé fosse a pedra.
E no meio disso tudo, quando sentia que estava próximo de acontecer, tinha duas opções: Ou reprimia tudo isso, fazendo um esforço sobre-humano para guardar tudo lá dentro, e vivia com a meia felicidade que coubesse no espaço não ocupado pelas pedras, ou deixava vir.
Mas contentar-se apenas com metades não era algo que lhe fazia feliz. Ainda que fizesse toda a força, os sentimentos incompletos e inseguros eram altamente inflamáveis, era quase impossível evitar que detonassem.
E então, quando percebia que estava prestes a acontecer, deixava que fosse.
E era.
O barulho era grande, o trabalho de reconstrução seria árduo, mas ele renascia.
É que por mais que as explosões destruíssem, elas determinavam um recomeço, e isso é sempre bom. 
Abriam-se novamente à sua frente todas as possibilidades.
E ele estava novamente imerso. E feliz.

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